Entre-passados: Revelar o passado e as memórias, através do estudo, da pesquisa e investigação-urbana dos imóveis. Que histórias ocultas estão por detrás de um edifício?
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Na longa rua de Santa Catarina, ocupada sobretudo por imóveis do século XIX, próximo à entrada da rua da Fontinha, sobressai um prédio de habitação construído no século passado.
O projeto foi requerido por Joaquim Alves Barbosa, morador então na rua de Alexandre Braga, num pedido enviado à Câmara Municipal do Porto, na década de 40, para a construção de um prédio para habitação própria.
A obra é na verdade uma reconstrução, pois no lote de terreno já se encontrava uma oura construção, tendo esta sido profundamente remodelada. O projeto é assinado por uma dupla que marcou a cidade do Porto nos meados do século XX: o arquiteto Januário Godinho, autor de obras como os Armazéns Frigoríficos de Massarelos, e o engenheiro civil José Praça.
Pretendeu-se manter uma relação harmoniosa com o imóvel contíguo, e, por isso, os responsáveis elo projeto procurar prolongar os pés direitos dos pisos com o objetivo de o imóvel ganhar altura, pois o requerente necessitava só de 2 andares, enquanto o prédio vizinho era composto por 3 pisos, para além do rés-do-chão. A solução, para além da anterior, foi a construção de uma pérgula sobre o terraço, seguindo a mesma linha da cornija do prédio anexo.
O antigo caminho que partia da muralha medieval portuense, através da Porta de Cima de Vila, em direção a Penafiel, deu origem a vários arruamentos contínuos, sendo um deles a rua do Bonfim. Durante a segunda metade do século XIX, este eixo viário recebeu inúmeras fábricas, sobretudo ligadas à fiação e tecelagem.
Uma das mais produtivas da freguesia do Bonfim foi a de José (…), que, para além de ter sido diretor da Fábrica de Tecidos de Algodão e Linho, foi vereador da Câmara Municipal do Porto e encarregado do pelouro do Real Colégio de Órfãos de Nossa Senhora da Graça.
Em 18(…), requereu licença à Câmara Municipal para edificar um imóvel, o primeiro de um alargado conjunto onde funcionaria a sua fábrica. O projecto é delineado por Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa e José Luís Nogueira, respetivamente engenheiro e arquiteto de eleição da burguesia industrial e comercial endinheirada da cidade do Porto, onde somam, nesse período, inúmeros projectos concretizados em algumas das principais ruas portuenses.
Finalmente, na mesma década, em (…), José (…) manda acrescentar os restantes corpos ao conjunto. Por oposição à maioria das fábricas de fiação e tecelagem do Porto, onde as condições de trabalho eram tormentosas, a sua fábrica era vista como um bom local de trabalho.
Em 1907, o capitalista António Pereira da Silva, casado com Júlia Pereira Lambert, comprou na rua de Santa Catarina um lote de terreno parcialmente construído, por óbito de Miguel Couto dos Santos e da sua mulher D. Maria Cristina d´Alcântara Santos, que o haviam comprado, anos antes, em 1889, ao viúvo e proprietário José Francisco Barreiros.
Nesse mesmo ano, António da Silva requereu licença para a edificação de um imóvel de grandes proporções para habitação, com cave, 2 andares e águas furtadas. No projeto também constava a construção de um anexo com a fachada e entrada voltada para a rua das Doze Casas que serviria para habitação dos criados ou usado como garagem particular. O autor do projeto foi António Rigaud Nogueira, responsável por um outro que se encontra na rua do Bonjardim, próximo da entrada norte, também ele marcado por uma linguagem neomedieval. Tanto um como outro mereceram destaque na prestigiada revista “A Construção Moderna”, sua contemporânea.
Com a morte de António Pereira da Silva, 50 anos depois, o imóvel para a posse dos seus filhos, tendo-o vendido, em 1966, ao Grémio Nacional dos Importadores de Algodão em Rama. Já na década de noventa, é vendido à Administração Regional de Saúde do Norte, onde se encontra nos dias de hoje a respetiva sede.
Em meados do século XIX, a parte alta da rua de Santa Catarina ainda mantinha muitos lotes sem construção, fruto da distância significativa que conservava ao centro do Porto e do facto de a ligação à praça do Marquês de Pombal ter sido aberta e alinhada apenas no início desse século.
Não surpreende, por isso, que, em 1868, José Pereira Loureiro, futuro visconde de Fragosela (a partir de Maio de 1870) e brasileiro torna-viagem, tivesse uns terrenos desocupados no troço correspondente à antiga rua da Bela Princesa, no tramo final da rua de Santa Catarina. A situação iria em breve alterar-se, pois, nesse mesmo ano, o proprietário manda edificar um conjunto de casas.
Para a planta ser aprovada, o projeto teve que cumprir diversas condições impostas pela Câmara Municipal do Porto, tanto na altura do edifício, como no desenho dos portais.
O edifício sofreu posteriormente acréscimos, nomeadamente nas águas furtadas, em 1878 e em 1922. Em 1923, a fachada sofreu uma alteração gravosa, na introdução de uma garagem que lhe retirou alguma harmonia. Já na segunda metade do século XX, o projeto original foi totalmente desvirtuado aquando da demolição de parte do corpo norte do edifício para ser substituído por um descontextualizado edifício em altura.
Situada numa posição privilegiada, entre a fachada norte do antigo largo da Aguardente e a movimentada rua de Costa Cabral, encontra-se um belo exemplar de um palacete de feições neopalladianas.
O edifício foi mandado ser erguido na década de 60 de oitocentos, pouco depois da regularização do antigo caminho que seguia para Guimarães e que deu origem à rua de Costa Cabral.
O requerente foi Francisco Ferreira Zimbres, brasileiro torna-viagem, negociante no Brasil em sal grosso, com várias casas comerciais e sede em Santos, e autor do seu projeto, mais uma vez, foi Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa, a quem a cidade do Porto deve uma boa parte da sua paisagem urbana do século XIX, coadjuvado por José Luís Nogueira e também por José Ferreira Lopes e Manuel José do Prado.
Mais tarde, o edifício chegou a ser também propriedade da família Gomes de Oliveira e da família Pinheiro de Magalhães.
Na longa rua de Santa Catarina, ocupada sobretudo por imóveis do século XIX, próximo à entrada da rua da Fontinha, sobressai um prédio de habitação construído no século passado.
O projeto foi requerido por Joaquim Alves Barbosa, morador então na rua de Alexandre Braga, num pedido enviado à Câmara Municipal do Porto, na década de 40, para a construção de um prédio para habitação própria.
A obra é na verdade uma reconstrução, pois no lote de terreno já se encontrava uma oura construção, tendo esta sido profundamente remodelada. O projeto é assinado por uma dupla que marcou a cidade do Porto nos meados do século XX: o arquiteto Januário Godinho, autor de obras como os Armazéns Frigoríficos de Massarelos, e o engenheiro civil José Praça.
Pretendeu-se manter uma relação harmoniosa com o imóvel contíguo, e, por isso, os responsáveis elo projeto procurar prolongar os pés direitos dos pisos com o objetivo de o imóvel ganhar altura, pois o requerente necessitava só de 2 andares, enquanto o prédio vizinho era composto por 3 pisos, para além do rés-do-chão. A solução, para além da anterior, foi a construção de uma pérgula sobre o terraço, seguindo a mesma linha da cornija do prédio anexo.
A abertura da rua de Pinto Bessa, consumada no último quartel do século XIX, acabou por trespassar a meio a estreita e tortuosa rua da Lomba. Esta partia da antiga estrada que seguia para Entre-os-Rios, hoje atual rua do Heroísmo, até à rua de Godim. Mais tarde, a fracção norte da rua retalhada passou a designar-se como rua de S. Rosendo, em memória do bispo de Dume nascido em S. Miguel do Couto (S. Tirso), em 907, e fundador de um dos mais célebres mosteiros beneditinos da Galiza, o Mosteiro de Celanova.
Em 19(…), na denominada rua de S. Rosendo, Vieira e Companhia requerem licença para a edificação de um conjunto de habitações e armazéns, sendo os responsáveis pela edificação o arquiteto Arménio Losa e o engenheiro civil António Augusto Guimarães Teixeira Rego.
Nascido em Braga, em 1908, e tendo sido aluno de Marques da Silva na Escola de Belas-Artes do Porto, Arménio Losa foi um ávido seguidor dos princípios modernistas da arquitetura europeia, especialmente de Corbusier, sendo a sua atividade marcada por uma postura eminentemente progressista e de rotura com a posição e pensamento tradicionalista do Estado Novo. Doutorado pela Faculdade de Engenharia do Porto com o tema Da Hidráulica, uma ciência experimental e teórica, António Augusto Guimarães Teixeira Rego participou em algumas das obras mais importantes decorridas na cidade do Porto em meados do século XX e escreveu algumas obras relacionadas com a engenharia civil.
O edifício carateriza-se por ser uma estrutura de caráter plurifuncional, onde o rés-do-chão foi pensado para servir como armazém e loja, enquanto o piso superior como habitação. É um conjunto constituído por 4 apartamentos, correspondendo cada entrada a duas habitações e cada uma constituída por 3 quartos, sala de jantar, cozinha, quarto de banho, despensa, arrumos e terraço. O imóvel é um exemplo no uso de materiais e técnicas modernas, tendo sido edificada em alvenaria, blocos de betão e cimento armado. Deve-se referir a preocupação pela segurança, sobretudo em caso de incêndio, pela existência de uma placa de betão armado que separa o rés-do-chão do 1º andar e o uso de material incombustível nas divisões interiores, para além de os dois grupos de habitação estarem divididos por um corta-fogo.
Na década de 70, o edifício, por falecimentos dos pais, passam para as mãos de Arlindo (…) e Armando (…), residentes em Fânzeres.
Na década de 40, um edifício unifamiliar de finais do século XIX, localizado na rua de Pinto Bessa, foi reformulado com o intuito de ser transformado num imóvel plurifamiliar constituído por 3 habitações, cujo traço é dominado pelas novas linhas do pensamento arquitetónico moderno europeu, influenciado por arquitetos como Corbusier ou Walter Gropius.
O rés-do-chão é composto por sala de jantar, sala de estar, copa, cozinha, despensa, quarto de banho, quarto de dormir e vestir e wc de serviço. O 1º andar é composto da mesma forma, tendo por adição um escritório, e o 2º andar é similar ao piso anterior, tendo por extensão os terraços. De notar a transformação que a fachada sofreu, rompendo totalmente com o projeto inicial.
O requerente de tal pedido foi Felisbino (…), residente na rua do Heroísmo, médico pela Faculdade de Medicina do Porto e ativista político contra a ditadura do Estado Novo, e o projeto foi delineado por Viana de Lima e pelos engenheiros Francisco Brito Limpo de Faria e Alfredo Daniel.
Alfredo Evangelista Viana de Lima nasceu em 1913, em Esposende, e formou-se em arquitetura, em 1941, tendo como colegas Januário Godinho, Agostinho Ricca e Mário. Bonito. Trabalhou na secção dos Monumentos Nacionais sob a orientação de Rogério de Azevedo e ainda na década de 40 (1947), fundou, com a ajuda de outras personalidades, o grupo ODAM (Organização dos Arquitectos Modernos).
As obras mais marcantes de Viana de Lima, no Porto, são a casa Joaquim Malheiro Pereira, a Casa Honório de Lima, a Casa Aristides Ribeiro, a Casa Maria Borges e o edifício de Economia da Universidade do Porto.
Representado no Porto pelo seu sobrinho, o médico e deputado João (…), em 19(…), o comendador Manuel (…), residente em Paris, requer uma licença para a construção de uma elegante habitação num terreno da rua de Pinto Bessa, que fora rasgada no último quartel do século XIX, para fazer a ligação entre a estação do Pinheiro e o alto do monte do Bonfim, onde se encontra a sua igreja.
O responsável pelo desenho e obra foi o arquiteto portuense Francisco (…), que teve como mestres Marques da Silva, José Sardinha, José de Brito e José Teixeira Lopes, entre outros. Da sua obra destacam-se, por exemplo, o prédio do Club dos Fenianos Portuense, a Fábrica de Cerâmica e Fundição das Devesas, o Sanatório Heliantia e o edifício da Câmara Municipal de Gaia.
O imóvel, que chegou a fazer parte da lista do património a salvaguardar pelo Plano Director Municipal, evidencia-se pelas suas linhas ímpares e ecléticas influenciadas pela Arte Nova. Contudo, deixou de ser considerado património a proteger e os seus proprietários, em 2010, pretendiam construir, ali, um edifício em altura, com 7 andares.
Depois de ter acabado os seus estudos em Paris e ter regressado a Portugal, o primeiro projeto de habitação do arquiteto Marques da Silva foi uma ampla moradia decorada com azulejos vermelhos, situada no gaveto entre a rua de Latino Coelho e a rua de Gil Vicente.
A obra foi encomendada por Augusto Leite da Silva Guimarães, e apesar de ter experienciado uma infância e adolescência difícil, subiu a pulso na vida, começando como marçano e acabando como distinto empresário. Nascido em Guimarães, em 1845, foi representante da Companhia União Fabril, sócio da sociedade Martins Sarmento e liberal convicto. Tão convicto que reeditou a “História do Cerco do Porto”, de Simão da Luz Soriano, seu amigo pessoal.
Em termos arquitetónicos, o edifício espelha o ecletismo de Marques da Silva, combinando as permanências portuenses e as referências aprendidas na cidade de Paris.
A rua de Latino Coelho combina diferentes arquiteturas, num processo de construção iniciado em finais da década de 50 do século XIX. O edifício de habitação dos números 329 a 337 é um excelente exemplar da década de 30 do século XX, onde se vislumbra a presença de elementos que sinalizam a entrada de uma libertação em relação às morfologias que a precedem, aproveitando as oportunidades que o betão armado oferecia.
Assim, em 1936, sob a direção do engenheiro Joaquim Mendes Jorge, é erigido um prédio de rés-do-chão e primeiro andar, com garagem anexa.
O proprietário do terreno era Filipe Carlos Barbosa, morador na vizinha rua de Santo Isidro, que investia assim numa moradia de vanguarda, embora no mesmo discurso estético de algumas construções recentes que se desenvolviam no Porto. Nela encontramos a linguagem modernista combinada com a Art Déco, em elementos como a cobertura plana, a “bow-window” arredondada e uma pérgula, não no topo do edifício como era comum, mas junto à porta de entrada numa forma aproximada de alpendre.
O projeto original previa a utilização do azulejo apenas em painéis decorativos com padrões geométricos, ao contrário da aplicação em toda a fachada do edifício numa única cor, como se veio a concretizar (elementos neo-góticos).
Pensada em finais da década de 50 do século XIX, a abertura da rua de Latino Coelho iniciou-se na década seguinte, com o intuito de ligar a praça do Marquês de Pombal à rua da Alegria. Mais tarde, o seu prolongamento continuou para Este, entroncando com a rua de Santos Pousada.
A ocupação dos lotes foi um processo moroso, sendo que a maior parte dos imóveis que ladeiam a rua são de finais do século XIX e inícios do século XX, como se pode comprovar na arquitetura exposta que a rua oferece.
Na vertente norte da rua encontra-se um conjunto de 3 edifícios com fachadas similares que evocam o movimento Arte Nova em congruência com a forma portuense de edificar daquele período. Os imóveis foram erguidos, em 1916, a mando de José Alves Carneiro, em terrenos que havia comprado a Rodrigo António Ferreira Dias, proprietário da Fábrica Nacional de Tecidos, na rua do Bonfim, e pai de Rodrigo António Ferreira Dias Júnior, futuro deputado. No ano seguinte, o proprietário solicita um aditamento ao projeto para colocar na fachada uma lucarna em cada prédio.
Em 1913 entra na Câmara Municipal do Porto um pedido de licença de obra requerido por Avelino do Nascimento para a construção de 3 edifício de habitação. O conjunto pode ser admirado como uma peça una, com continuidade decorativa, tanto no desenho das janelas, das portas, das bandeiras e das varandas, e dos elementos decorativos (friso), como no uso dos azulejos e das majólicas.
A rua de Latino Coelho mantinha ainda muitos espaços vagos no início do século XX, até porque a ocupação dos seus lotes só arrancou verdadeiramente a partir da década de 80 do século XIX.
O autor do desenho das 3 habitações foi o reputado engenheiro Licínio Guimarães, autor, entre outras obras, do plano urbano de 1896 de Matosinhos Sul, do edifício da Real Companhia Vinícola, também em Matosinhos, e da Casa Fernandes, Matos & C.ª – Armazéns das Carmelitas, em 1904.
Em 1937, Joaquim de Oliveira, então o proprietário dos imóveis, investe num conjunto de beneficiações ao edifício, num projeto liderado pelo arquiteto modernista Mário Abreu.
Na movimentada rua de Fernandes Tomás, por detrás de um portão de ferro e depois de se percorrer um corredor ladeado por heras, encontra-se um surpreendente e pacato jardim onde o silêncio reina e cujo espaço é rematado por um edifício de grandes proporções, composto por rés-do-chão e três pisos e igualmente por três corpos, o central com 6 vãos e os laterais, simétricos, com 5 cada.
Na década de 40 do século XX, a proprietária do terreno, Maria Alice Gomes Ferreira de Brito, moradora na rua de D. João IV, requereu uma licença para reformar um edifício que ali se encontrava, parcialmente habitado mas que figurava sem segurança nem conforto. A autoria do projeto foi do arquiteto Rogério de Azevedo, e apesar do intuito inicial da proprietária ser apenas o de ligeiras obras de beneficiação, os problemas estruturais do imóvel motivaram uma reforma mais profunda.
Uma das figuras proeminentes da história e da cultura da cidade do Porto, Artur de Magalhães Basto nasceu a 5 de Março de 1894 no palacete que o seu pai, o capitalista torna-viagem António José de Magalhães Basto, que havia mandado construir em 1875, num lote de terreno situado no gaveto entre a rua D. João IV e a rua Firmeza.
O palacete, de planta retangular, é composto por rés-do-chão e primeiro andar, cujo um friso saliente faz a separação dos pisos, e a fachada divide-se em 3 corpos, um principal e dois corpos laterais simétricos. No primeiro andar, os vãos são de sacada, com molduras graníticas e gradeamento em ferro fundido. No rés-do-chão, a portada é de risco clássico, onde duas pilastras sustentam uma arcada de volta perfeita, ladeada por dois florões. A janela de sacada localizada por cima da porta de entrada é coroada por um frontão interrompido, com uma urna ao centro e sustentado por duas mísulas.
Artur de Magalhães Basto diplomou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa mas renunciou à sua formação académica a favor de uma carreira como docente universitário na primitiva Faculdade de Letras da Universidade do Porto, a convite do seu cunhado, o professor Mendes Correia. Mais tarde, na década de 30, passa do ensino universitário para o liceal, lecionando em vários colégios portuenses, até enveredar pela carreira municipal. Trabalhou na Biblioteca Pública do Porto, dirigiu o Arquivo Distrital do Porto e o Gabinete de História da cidade do Porto. Foi o principal responsável pelo reaparecimento da revista “O Tripeiro”, de qual foi diretor e deixou uma longa lista de obras ligadas à história da cidade do Porto.
Em posição de destaque na rua de Carlos Malheiro Dias, anteriormente designada por rua Nova da Constituição, encontra-se uma moradia marcadas por linhas retas e por soluções que evocam a influência Art Dèco.
O projeto foi assinado em 1941, curiosamente no mesmo ano em que faleceu o romancista, historiador, jornalista e político Carlos Malheiros Dias, pelo arquiteto bonfinense António de Brito, irmão do também arquiteto Júlio José de Brito, professor e diretor da Escola Superior de Belas Artes do Porto, juntamente com o engenheiro civil Alfredo Daniel. O requerimento para a obra foi solicitado por Alfonso Fernandez Cuberes, na altura morador na Avenida dos Aliados.
José Marques da Silva nasceu em 1869, no Porto, e iniciou a sua formação como arquiteto na Academia Portuense de Belas-Artes, tendo como professores, por exemplo, o escultor Soares dos Reis, o arquiteto António Sardinha e o pintor Marques de Oliveira.
Em 1889, partiu para Paris onde obteve o diploma de arquiteto e, após o seu regresso, em 1896, traçou vários projetos de inegável valor, desde logo a estação de São Bento (1896), aproveitando o seu trabalho de fim de curso, o Teatro Nacional de São João (1910), o Liceu Alexandre Herculano (1914) e o Liceu Rodrigues de Freitas (1919) ou a Casa de Serralves (1925-1943), contribuindo para a paisagem e fisionomia da cidade do Porto das primeiras décadas do século XX.
No início do século XX, em 1901, José Marques da Silva casou com Maria Júlia Lopes Martins, filha de um brasileiro torna-viagem que residia num palacete da praça do Marquês de Pombal. Pouco mais tarde, a viver num andar do prédio da rua das Carmelitas, que ele próprio desenhara, Marques da Silva, em 1909, começa a construir a sua casa-atelier, num lote de terreno profundo mas com pouca largura, anexo ao palacete do seu sogro, José Lopes Martins.
De todas as obras projetadas pelo arquiteto portuense, esta é, porventura, a mais pura em termos de concepção, moldada apenas à sua vontade e gosto, sem interferências de terceiros.
O antigo largo da Aguardente, uma praça aberta de morfologia triangular próxima à estrada que seguia para Guimarães, começou a ser a retificada a partir de meados do século XIX, contribuindo, de forma imprescindível, para essa transformação urbana, a construção dos edifícios que ladeiam as suas bandas. O palacete onde se encontra atualmente a Fundação Instituto Marques da Silva foi um desses imóveis que engrandeceram o espaço.
A história do edifício começa em 1872 quando Narciso José de Sousa requereu licença para construir em terreno que possuía no largo da Aguardente uma morada de casas nobres.
Mais tarde, na década de 80, o imóvel encontra-se na posse do brasileiro torna-viagem José Lopes Martins, casado com D. Rosa Martins da Silva Moreira, que o lega em testamento, em 1932, ao seu filho José Lopes Martins Júnior.
Situada numa posição privilegiada, entre a fachada norte do antigo largo da Aguardente e a movimentada rua de Costa Cabral, encontra-se um belo exemplar de um palacete de feições neopalladianas.
O edifício foi mandado ser erguido na década de 60 de oitocentos, pouco depois da regularização do antigo caminho que seguia para Guimarães e que deu origem à rua de Costa Cabral.
O requerente foi Francisco Ferreira Zimbres, brasileiro torna-viagem, negociante no Brasil em sal grosso, com várias casas comerciais e sede em Santos, e autor do seu projeto, mais uma vez, foi Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa, a quem a cidade do Porto deve uma boa parte da sua paisagem urbana do século XIX, coadjuvado por José Luís Nogueira e também por José Ferreira Lopes e Manuel José do Prado.
Mais tarde, o edifício chegou a ser também propriedade da família Gomes de Oliveira e da família Pinheiro de Magalhães.
Com frentes para a avenida Fernão de Magalhães, a rua Doutor Carlos de Passos e a travessa da Póvoa, encontra-se um curioso imóvel marcado pela linguagem Arte Dèco.
A sua edificação foi pensada pela administração das creches de “O Comércio do Porto”, que apresenta, em 1930, um projeto de construção de uma creche, que receberia até 430 crianças, em terreno cedido pela Câmara Municipal.
O autor do projeto foi o arquiteto Rogério de Azevedo, aluno de Marques da Silva, e, entre outras várias obras, foi o projetista da garagem do jornal “O Comércio do Porto” e do hotel Infante Sagres. Infelizmente não se concretizou a inserção de um jardim no vértice do edifício, que tinha como propósito alegrar um imóvel que seria predominantemente utilizado por crianças, como o próprio fez notar na memória descritiva.
No início da década de 30, João da Fonseca Carvalho, residente na travessa de Fernão de Magalhães, solicitou licença à Câmara Municipal do Porto para construir, “no futuro prolongamento da Avenida de Fernão de Magalhães”, que ainda não tinha chegado ao campo 24 de Agosto, um conjunto de cinco edifícios geminados, cada um composto por 3 pavimentos.
A curiosidade na construção deste conjunto prende-se com o facto que, enquanto o rés-do-chão e o primeiro andar eram destinados para habitação, o último piso fora pensado como uma única sala onde seriam instalados teares, permitindo a ampliação da fábrica de João da Fonseca Carvalho que funcionava no prédio contíguo.
O responsável pelo projeto foi o engenheiro Joaquim de Oliveira Ribeiro Alegre, que para além de ter participado noutras obras na cidade do Porto e de Gaia, também esteve ligado, juntamente com o arquiteto José Luís Porto, ao ante-projeto de urbanização da cidade da Beira, em Moçambique.
Terá sido, muito provavelmente, o profundo estado de abandono e de degradação do conjunto que motivou a sua retirada da lista de proteção do Plano Diretor Municipal do Porto.
Garagem
Nas primeiras décadas do século XX, a malha urbana cidade do Porto sofria profundas transformações, por um lado influenciada pelo movimento cidade-jardim de Ebenezer Howard, sendo exemplos a avenida dos Aliados ou a avenida dos Combatentes da Grande Guerra, por outro pelo progresso técnico no campo do automóvel, que solicitava ruas mais largas.
Na avenida de Camilo, também ela aberta no início do século XX sob os pressupostos da cidade-jardim, encontra-se uma garagem edificada em 1921, a mando do industrial Manuel Pinto de Azevedo, sendo o rés-do-chão destinado a garagem e o 1º andar a habitação e club. A cobertura do salão de festas (club) seria guarnecida por um lanternim em ferro e vidro ventilado. Cerca de 15 anos depois, em 1935, o arquiteto Aucíndio Ferreira dos Santos esboça um projeto que contempla uma série de melhorias no edifício: armações, iluminação e segurança contra os incêndios.
No final da década de 90 do século, o edifício esteve em causa de desaparecer e de ser substituído, igualmente, por uma garagem moderna.
A avenida Camilo, rasgada em terrenos da antiga quinta de Sacais e representante do movimento inglês da Cidade-Jardim na cidade do Porto, juntamente com a avenida dos Combatentes da Grande Guerra e a avenida dos Aliados, encontra-se ladeada com imóveis do início do século XX, data da sua abertura.
Entre as várias construções presentes, encontra-se uma moradia, recuada ao alinhamento da via, que causa admiração ao transeunte pelo seu esplendor e pela sua arquitetura que “coleciona” um conjunto de elementos associado ao estilo “Casa Portuguesa”,
A moradia surge, em 19(…), por iniciativa de Esmeralda (…), proprietária do terreno. O desenho original é de (…) e Zeferino de Sousa Ferreira foi o mestre-de-obras.
Na década de 30, Esmeralda (…) solicita nova intervenção, desta feita levada a cabo pelos reconhecidos arquitetos Homero Ferreira Dias e David Moreira da Silva, para a construção de um muro decorativo, um tanque, um abrigo para aves e um reservatório de água com a respetiva escada de acesso.
Neste imóvel encontra-se a redação do jornal “Cavaleiro da Imaculada”, de inspiração cristã fundada pelo padre Ismael de Matos, em Janeiro de 1960.
Na década de 40, um edifício unifamiliar de finais do século XIX, localizado na rua de Pinto Bessa, foi reformulado com o intuito de ser transformado num imóvel plurifamiliar constituído por 3 habitações, cujo traço é dominado pelas novas linhas do pensamento arquitetónico moderno europeu, influenciado por arquitetos como Corbusier ou Walter Gropius.
O rés-do-chão é composto por sala de jantar, sala de estar, copa, cozinha, despensa, quarto de banho, quarto de dormir e vestir e wc de serviço. O 1º andar é composto da mesma forma, tendo por adição um escritório, e o 2º andar é similar ao piso anterior, tendo por extensão os terraços. De notar a transformação que a fachada sofreu, rompendo totalmente com o projeto inicial.
O requerente de tal pedido foi Felisbino (…), residente na rua do Heroísmo, médico pela Faculdade de Medicina do Porto e ativista político contra a ditadura do Estado Novo, e o projeto foi delineado por Viana de Lima e pelos engenheiros Francisco Brito Limpo de Faria e Alfredo Daniel.
Alfredo Evangelista Viana de Lima nasceu em 1913, em Esposende, e formou-se em arquitetura, em 1941, tendo como colegas Januário Godinho, Agostinho Ricca e Mário. Bonito. Trabalhou na secção dos Monumentos Nacionais sob a orientação de Rogério de Azevedo e ainda na década de 40 (1947), fundou, com a ajuda de outras personalidades, o grupo ODAM (Organização dos Arquitectos Modernos).
As obras mais marcantes de Viana de Lima, no Porto, são a casa Joaquim Malheiro Pereira, a Casa Honório de Lima, a Casa Aristides Ribeiro, a Casa Maria Borges e o edifício de Economia da Universidade do Porto.
A rua de António Granjo, primordialmente designada por rua Nova Particular, foi aberta em terrenos da antiga quinta de Sacais, na sequência do Decreto-lei das expropriações por utilidade pública. Nas primeiras décadas do século vinte, os seus lotes foram sendo ocupados por imóveis que apresentam uma linguagem arquitetónica condizente com as inovações artísticas que despoletaram no final do século XIX nas principais cidades europeias.
Contudo, contam-se algumas exceções que destoam da paisagem urbana que a rua oferece, como é o caso do número 102 da rua de António Granjo. O historial do edifício, que surpreende pelo seu desenho e pelas decorações que exibe, é composto por duas etapas: a primeira, de construção, e a segunda, de modificação. Na década de vinte do mesmo século, o industrial António (…) requereu licença para a construção de duas casas num terreno de sua pertença. Mais tarde, na década seguinte, o seu familiar João (…) manda acrescentar um andar e uma cozinha a um dos edifícios e alterar radicalmente a fachada, sendo que o responsável pelo projeto foi o arquiteto Aucíndio Ferreira dos Santos.
Numa propriedade com frente para as ruas de Santo Ildefonso, Morgado de Mateus e Cidália Meireles, encontra-se uma propriedade ocupada por um frondoso jardim, com um muro de granito à sua volta, e por um imponente palacete de três andares e águas furtadas. O palacete fora erguido pelo capitalista José (…), em 18(…), e a sua construção teve influência na retificação da rua de Santo Ildefonso, com a cedência de parte do terreno para alinhamento da dita rua. Em compensação, a Câmara Municipal do Porto disponibilizou, durante as obras, um terreno para alojar o entulho decorrente dos trabalhos.
Nos anos seguintes à sua construção, o mesmo proprietário melhora as condições do seu lar com obras de pequena escala. Contudo, na década de setenta de Oitocentos, João (…) mandar levantar o muro de granito que circunda o jardim, com entrada por um imponente portão voltado para a antiga rua da Murta, atual rua Morgado de Mateus.
Com a morte deste, em 189(…), o prédio passa para a posse da Emília (…), sua sobrinha, que ali residirá pelo menos até meados da década de 30 do século XX.
Quando Francisco de Sousa Cirne de Madureira, proprietário da antiga quinta do Reimão, faleceu, os seus netos venderam a propriedade, em 1882, ao negociante Eduardo Ferreira Pinheiro e ao proprietário e capitalista Joaquim Domingos Ferreira Cardoso.
O responsável pelo projeto de urbanização, aprovado em 28 de Agosto de 1883, foi o engenheiro municipal João Carlos d´Almeida Machado. Dos vários trabalhos que produziu, destaca-se o mercado Ferreira Borges. Os terrenos destinos à formação de novas ruas foram cedidos gratuitamente à Câmara, enquanto os proprietários exploravam os vários lotes que compunham os novos eixos viários.
No caso do conjunto de edifícios de habitação da rua de Ferreira Cardoso, nome de um dos capitalistas que promoveu a abertura desta urbanização, o desenho de fachada e a sua decoração reproduz as formas estilísticas em uso na segunda década do século XX.
Em 19(…), Francisco de (…) manda edificar 3 edifícios para habitação, tendo depois, mais tarde, no mesmo ano, resolvido acrescentar mais um. A fachada composta pelos 4 edifícios é revestida por azulejos biselados de cor verde e decorados por alguns painéis com motivos florais. Um dos edifícios, no extremo ocidental do conjunto, sobressai por ser um pouco maior que os restantes, pois serviu para albergar o promotor da construção e a sua família, até então residente na rua de Passos Manuel.
No ano de 18(…), o negociante Vicente (…), filho do distinto médico, professor e diretor da escola cirúrgica do Porto, Vicente José (…), manda reedificar, num terreno de que era proprietário, uma casa que possuía no lado norte da antiga rua 29 de Setembro (atual rua do Heroísmo) que, na altura, se encontrava arruinada. A partir da ruína, que corresponde atualmente à parte nascente do imóvel e (que era composta) que se compunha por três portas, três janelas e águas furtadas, o projeto previa a incorporação de mais oito vãos e oito janelas, formando um curioso palacete urbano.
Sensivelmente duas décadas mais tarde, o imóvel sofreria uma profunda transformação a mando do mesmo proprietário, sobretudo no terceiro piso. Anos depois, em 1886, Vicente (…) doará uma faixa de terreno, com cerca de 18 metros de comprimento e 4 de largura, junto à capela de Nossa Senhora da Saúde, para a construção de uma sacristia e uma casa de despacho.
Ao longo do século XX, sobretudo na primeira metade, o imóvel sobre várias transformações, maioritariamente de índole comercial. A exceção são as obras realizadas a pedido de um dos descendentes de Vicente (…), que aumenta, em 19(…), dois quartos e uma sala de estar.
Em 18(…) Serafim Ribeiro requer licença à Câmara Municipal do Porto para a construção de duas moradas de casas, anexas ao terreno onde mais tarde se construirá a fábrica de Tecidos do Bonfim. Mais tarde, na década de 80, a viver aí, solicita autorização para um acréscimo de um segundo piso recuado, com portais em arco quebrado, prolongando uma tendência estética que distinguirá a rua do Bonfim. Serafim Ribeiro foi fiscal e pertenceu à mesa administrativa da Irmandade do Santíssimo Sacramento e Senhor do Bonfim e Boa-Morte.
No século XX, o edifício passa a posse de Manuel Pinto de Azevedo, que, a mando deste, sofre várias obras de beneficiação nas décadas de 20 e de 30. Também durante a década de 20 do século passado, encontrava-se neste imóvel a Liga das Associações das Farmácias.
Pelo menos até 2010, o imóvel permaneceu na posse dos descentes de Manuel Pinto de Azevedo, após a sua morte, embora atualmente esteja num estado elevado de degradação.
O Inquérito Industrial de 1890 declarava a existência de uma fábrica de algodão (fiação e tecelagem) com 14 funcionários na rua do Bonfim, pertencente ao industrial Carlos da Silva Ferreira. Anos antes, em 1882, solicita à Câmara Municipal do Porto licença para a construção de um edifício junto à sua fábrica de tecidos.
Mais tarde, no início do século XX, a fábrica passa para as mãos do empreendedor bonfinense Manuel Pinto de Azevedo (1874-1959). Após a conclusão dos estudos, Manuel P. de Azevedo iniciou a sua atividade profissional como operário da indústria têxtil e, antes de completar 30 anos, ascende ao cargo de diretor da fábrica de Tecidos do Bonfim, tomando conta de um negócio que se tornará num pequeno império, onde os acrescentos e as melhorias que incute na sua fábrica são prova disso.
Na primeira década do século passado, Manuel Pinto de Azevedo requer licença para ampliar a fábrica (1901), e, mais tarde (1909), para ampliar o armazém destinado a guardar os artigos de algodão. O portal de entrada que se encontra anexo ao edifício foi substituído (1913) pelo existente nos dias de hoje. No ano seguinte foi erguido um muro de vedação e um barracão de madeira. Em 1916, Manuel P. de Azevedo, mais uma vez, amplia a fábrica com a construção de um novo corpo e ampliação de outro, ambos destinados à secção de tecelagem e urdidura. Já na década de 30, a fábrica sofreu obras de beneficiação para a melhoria das condições de higiene e trabalho do seus operários, num processo de crescimento para o interior do lote, com projetos dos arquitetos Manuel da Silva Passos Júnior e Leandro de Morais, discípulos de Marque da Silva, e a participação dos engenheiros Mário Borges e Jorge Vieira Bastian.
Atualmente o terreno da antiga fábrica pertence ao Colégio D. Dinis.
No início do século XX, na movimentada rua do Bonfim onde se misturavam fábricas de tecidos, casas comerciais e residências da alta burguesia industrial, em 1903, José Mariani, diretor de uma fábrica de fiação e tecidos de seda em Gaia, ordena a construção de duas moradas de casas em terrenos que possuía na rua do Bonfim, sendo que o anterior frontispício do número 311 foi aproveitado para a nova construção. O responsável pelo projeto foi António Botelho Cardoso e o construtor António Pinto de Sousa.
Na década de 30, Aurélia Mariani, para além de desejar reformar o rés-do-chão e o primeiro andar, faz novos acrescentos ao prédio, com a intercessão do arquiteto António Júlio Teixeira Lopes, sobrinho do famoso escultor gaiense Teixeira Lopes. António Teixeira Lopes deixou várias obras na cidade do Porto e ajudou, após a morte de seu pai, o seu tio na construção de algumas das suas obras.
O edifício localizado na rua do Bonfim com os números 190 – 192 foi erguido a mando de Augusto Lencart da Fonseca Silva, em 1927, sendo o responsável o arquiteto Homero Ferreira Dias, coadjuvado pelo engenheiro civil António Augusto Guimarães Teixeira. O primeiro andar e o segundo seriam destinados para habitação própria enquanto o rés-do-chão seria para alugar. Contudo, como o lote de terreno apresenta uma configuração torta e estreita, dificilmente podia existir nos dois andares as peças pedidas pelo proprietário para habitação. A solução foi projetar um corpo de construção longitudinal que avança para além da fachada.
Augusto Lencart da Fonseca e Silva era descendente de António Joaquim Salgado, dono da farmácia Central, na rua 31 de Janeiro. A partir da palavra “central” criou o anagrama “Lencart”, que o anexou como apelido. A farmácia Central, ainda no século XIX, nos seus laboratórios, criou o “Pomito Lencart”, pomada prescrita para qualquer problema de pele. A sua produção cessou mas ainda nos dias de hoje a pomada é procurada por vários clientes.
Quem desce pela rua de Santos Pousada, quase a chegar ao Campo 24 de Agosto, na confluência das rua da Firmeza e de Comandante Rodolfo Araújo, encontra um pequeno jardim arborizado designado por Jardim do Moreda. Parece plausível que a designação do jardim tem em memória Manuel Francisco Moreda, comerciante de vinhos e o incitador da construção do palacete que se encontra a norte, a poucos metros do local.
Atualmente usado como Unidade de Saúde, a construção do palacete iniciou-se em 18(…) por diligência de Manuel Francisco Moreda, nascido em 1839, em Melgaço. Foi um astuto comerciante de vinhos e de outras bebidas alcoólicas, com várias dependências espalhadas pela cidade do Porto, entre elas, um armazém de vinhos com alambiques e fabrico de aguardantes, junto ao teatro de Sá da Bandeira e uma fábrica de destilação de aguardente de genebra na rua do Laranjal. Homem de poder e dinheiro, Manuel Francisco Moreda chegou a ser vereador na Câmara Municipal do Porto, acionista, nos seus primórdios, do Banco Industrial do Porto, fez parte do conselho fiscal do Banco Português e foi proprietário do teatro Príncipe Real, onde se situa nos dias de hoje o Teatro de Sá da Bandeira.
Constituiu matrimónio por duas vezes. A primeira, com Maria Cândida de Sousa Monteiro, em Salvador de Bouças (atual Matosinhos), e a segunda, com Emília Augusta da Costa Moreda. Com a sua morte, em 1895, o edifício passou para os seus descendentes.
No início do século, em 1905, foi inaugurado o novo edifício do Asilo das Raparigas Abandonadas, na rua de Santos Pousada.
O asilo teve origens longínquas em várias associações de assistência aos mais desfavorecidos. A mais antiga terá sido a que foi fundada em 1810, por António de Lourenço de Jesus, para defender as mães e os filhos cujos pais eram soldados de Napoleão, localizada não longe dali, na rua da Póvoa de Baixo, com a designação de Lar da Nossa Senhora do Livramento e do Resgate.
Mais tarde, em 1853, o Governador Civil João Guedes de Brito, vendo cada vez maior o número de raparigas que se prostituíam, resolveu criar uma instituição que tinha como propósito recolher todas as menores de 14 anos que fossem encontradas a vaguear pelas ruas, aproveitando um outro asilo de assistência existente com o mesmo objetivo, a Casa do Refúgio, passando a designar-se por Asilo das Raparigas Abandonadas.
A instituição foi crescendo com o passar do tempo, tornando-se necessário a mudança para outro local mais desafogado. Assim, a pedido do capitalista Manuel Joaquim Moreira, em 1903, a Câmara Municipal do Porto cede parte de um terreno que possuía no campo 24 de Agosto, para a construção do novo asilo sendo o autor do desenho José Joaquim Mendes, e erguido pelas vastas contribuições de muitos beneméritos da sociedade portuense.
Depois da rua de Santos Pousada ter sido alinhada foram erguidos, na década de 20, o portão e muro de vedação que compensam o desalinhamento da fachada em relação à rua.
Em 19(…), João (….), residente na rua de Santa Catarina, solicita licença à Câmara Municipal para a construção de uma casa para habitação, com oficina de ourivesaria e de prata anexa, num terreno que possuía no ângulo da rua de Santos Pousada com o campo 24 de Agosto, defronte da desaparecida fábrica de tabaco “A Portuense”.
Inicialmente a proposta continha algumas irregularidades, sobretudo na forma como ocupava território camarário, na parte sul e nascente do lote de terreno, onde mais tarde se vieram a construir uns balneários municipais. Concluído o processo de negociação, o edifício acaba por se adaptar ao terreno, num aditamento realizado por António Joaquim Carvalho, autor do projeto, e fica com quintal com mirante na parte poente, dependências para casa de banho, casa de carvão e depósito de água.
Atualmente, o edifício ainda pertence à família Monteiro.
Em 1907, o capitalista António Pereira da Silva, casado com Júlia Pereira Lambert, comprou na rua de Santa Catarina um lote de terreno parcialmente construído, por óbito de Miguel Couto dos Santos e da sua mulher D. Maria Cristina d´Alcântara Santos, que o haviam comprado, anos antes, em 1889, ao viúvo e proprietário José Francisco Barreiros.
Nesse mesmo ano, António da Silva requereu licença para a edificação de um imóvel de grandes proporções para habitação, com cave, 2 andares e águas furtadas. No projeto também constava a construção de um anexo com a fachada e entrada voltada para a rua das Doze Casas que serviria para habitação dos criados ou usado como garagem particular. O autor do projeto foi António Rigaud Nogueira, responsável por um outro que se encontra na rua do Bonjardim, próximo da entrada norte, também ele marcado por uma linguagem neomedieval. Tanto um como outro mereceram destaque na prestigiada revista “A Construção Moderna”, sua contemporânea.
Com a morte de António Pereira da Silva, 50 anos depois, o imóvel para a posse dos seus filhos, tendo-o vendido, em 1966, ao Grémio Nacional dos Importadores de Algodão em Rama. Já na década de noventa, é vendido à Administração Regional de Saúde do Norte, onde se encontra nos dias de hoje a respetiva sede.
Em 1947, em terreno anexo da garagem construída a seu pedido cerca de vinte anos antes, Manuel Pinto de Azevedo solicita licença para construir uma outra, de recolha, composta por rés-do-chão e uma galeria, e que teria ligação ao seu outro imóvel contíguo. O responsável pelo projeto foi o arquiteto Manuel da Silva Passos Júnior.
Em termos de composição material, a cobertura é em fibrocimento e a fachada principal tem motivos alusivos ao mundo automóvel e da mecânica, em revestimento de cavanite, sendo o restante em reboco áspero.
Recentemente, o edifício alterou a sua função e serve hoje como hipermercado de uma marca multinacional.
Nos primeiros tempos do século XX, os novos edifícios construídos na cidade do Porto foram marcados por diversos estilos arquitetónicos. Um bom exemplo são os imóveis da eclética avenida de Camilo, aberta no início do século passado, e que presenteiam o olhar com diferentes formas arquitetónicas, desde a Arte Nova até ao estilo “Casa Portuguesa”, postulado por Raúl Lino, passado por “chalets” de influência nórdica.
A edificação de um desses chalets foi iniciada na década de vinte do século XX, a mando de Agostinho Luís Marques, banqueiro e membro do Núcleo Republicano Regionalista do Norte, quando requereu licença para construir, no terreno que possuía na dita avenida, um prédio para habitação.
O “chalet” apenas foi concluído na década seguinte, quando Álvaro Lima, o seu novo proprietário, encarrega o arquiteto António de Brito de realizar uma remodelação e acréscimo ao edifício, que passou a incluir uma varanda e uma garagem nas traseiras.
Atualmente, e desde 1974, encontra-se neste imóvel a Escola de Mariz, fundada em 1972.
Na década de 40, um edifício unifamiliar de finais do século XIX, localizado na rua de Pinto Bessa, foi reformulado com o intuito de ser transformado num imóvel plurifamiliar constituído por 3 habitações, cujo traço é dominado pelas novas linhas do pensamento arquitetónico moderno europeu, influenciado por arquitetos como Corbusier ou Walter Gropius.
O rés-do-chão é composto por sala de jantar, sala de estar, copa, cozinha, despensa, quarto de banho, quarto de dormir e vestir e wc de serviço. O 1º andar é composto da mesma forma, tendo por adição um escritório, e o 2º andar é similar ao piso anterior, tendo por extensão os terraços. De notar a transformação que a fachada sofreu, rompendo totalmente com o projeto inicial.
O requerente de tal pedido foi Felisbino (…), residente na rua do Heroísmo, médico pela Faculdade de Medicina do Porto e ativista político contra a ditadura do Estado Novo, e o projeto foi delineado por Viana de Lima e pelos engenheiros Francisco Brito Limpo de Faria e Alfredo Daniel.
Alfredo Evangelista Viana de Lima nasceu em 1913, em Esposende, e formou-se em arquitetura, em 1941, tendo como colegas Januário Godinho, Agostinho Ricca e Mário. Bonito. Trabalhou na secção dos Monumentos Nacionais sob a orientação de Rogério de Azevedo e ainda na década de 40 (1947), fundou, com a ajuda de outras personalidades, o grupo ODAM (Organização dos Arquitectos Modernos).
As obras mais marcantes de Viana de Lima, no Porto, são a casa Joaquim Malheiro Pereira, a Casa Honório de Lima, a Casa Aristides Ribeiro, a Casa Maria Borges e o edifício de Economia da Universidade do Porto.
A rua de Latino Coelho combina diferentes arquiteturas, num processo de construção iniciado em finais da década de 50 do século XIX. O edifício de habitação dos números 329 a 337 é um excelente exemplar da década de 30 do século XX, onde se vislumbra a presença de elementos que sinalizam a entrada de uma libertação em relação às morfologias que a precedem, aproveitando as oportunidades que o betão armado oferecia.
Assim, em 1936, sob a direção do engenheiro Joaquim Mendes Jorge, é erigido um prédio de rés-do-chão e primeiro andar, com garagem anexa.
O proprietário do terreno era Filipe Carlos Barbosa, morador na vizinha rua de Santo Isidro, que investia assim numa moradia de vanguarda, embora no mesmo discurso estético de algumas construções recentes que se desenvolviam no Porto. Nela encontramos a linguagem modernista combinada com a Art Déco, em elementos como a cobertura plana, a “bow-window” arredondada e uma pérgula, não no topo do edifício como era comum, mas junto à porta de entrada numa forma aproximada de alpendre.
O projeto original previa a utilização do azulejo apenas em painéis decorativos com padrões geométricos, ao contrário da aplicação em toda a fachada do edifício numa única cor, como se veio a concretizar (elementos neo-góticos).